Um dos mais importantes elementos de celebração ao 2 de Julho iniciou seu trajeto pelas cidades do Recôncavo baiano ontem. O fogo simbólico em homenagem à Independência da Bahia esteve pela primeira vez em dois trajetos: o tradicional, partindo da cidade de Cachoeira em direção à capital baiana; e a novidade na região do Recôncavo Norte, saindo de Mata de São João, passando por Dias D’Ávila, Camaçari e Lauro de Freitas, até se encontrarem em Simões Filho.
A saída do Fogo aconteceu às 7h30, tanto de Cachoeira quanto de Mata de São João em direção a Pirajá, em Salvador. O roteiro tradicional segue pelas cidades de Cachoeira, Saubara, Santo Amaro, São Francisco do Conde, Candeias e Simões Filho. A inclusão do roteiro do Recôncavo Norte foi autorizada pela Fundação Gregório de Mattos.
O encontro dos fogos simbólicos acontece hoje, às 12h, em Simões Filho. A Polícia Militar, por meio do Comando de Policiamento Rodoviário, está realizando desde ontem as escoltas das chamas por 11 municípios. Já a cerimônia cívica da chegada no Largo de Pirajá está prevista para as 15h, com o hasteamento das bandeiras por autoridades, a execução do hino nacional pela Banda de Música da PM, o acendimento da pira e a colocação de flores no túmulo do General Pedro Labatut.
O historiador e professor de História da Bahia, Murilo Mello, aponta que a chama representa a união das regiões e dos baianos de diferentes lugares para a vitória da Bahia e do Brasil na guerra. “A utilização do fogo é milenar na literatura e na cultura humana, desde a mitologia grega com Prometeu que roubou o fogo dos deuses. Adaptamos isso aqui na Bahia. O fogo sai de Cachoeira e passa pelas cidades mais tradicionais em relação à visão que nós temos sobre a contribuição à vitória. Sempre foi esse o trajeto considerado oficial”, comenta.
Com o passar dos anos, o Recôncavo Norte passou a pleitear sua importância no 2 de Julho. “Óbvio que Cachoeira, Maragogipe, São Francisco do Conde e Santo Amaro foram as cidades mais importantes, tanto que vão ganhar um nome pela sua bravura. Mas o Recôncavo Norte também teve a sua participação”, pontua.
Murilo lembra que esses municípios precisaram comprovar sua participação e importância nas lutas a partir de estudos de historiadores. Alguns dos mais atuantes foram os pesquisadores Diego Copque, de Camaçari, e Coriolano Oliveira, Lauro de Freitas.
De acordo com Murilo, Mata de São João, com Praia do Forte, na época chamada de Enseada de Tatuapara, foi palco de uma grande resistência no atual Castelo de Garcia D’Ávila, o maior latifúndio privado da humanidade, com o herdeiro José Albuerque. Conhecido como Coronel Santinho, ele soube dos embates e viajou com uma tropa de indígenas até Pirajá, onde contribuiu na luta e se tornou o Visconde de Pirajá pela sua bravura, iniciando a resistência antes da chegada de mais tropas e dos mercenários.
Já, Dias D’Ávila, quando se chamava Capuame, a primeira feira de gado da América Latina, serviu como ponto de alimentação para os combatentes e conteve a chegada de alimentos do interior para os portugueses de Salvador. Da cidade, também veio Ladislau Titara, um guerreiro que fez relatos escritos da guerra e foi autor do poema base para o Hino ao 2 de Julho, atual da Independência da Bahia.
A resistência seguiu pelos outros municípios da Rota da Praia, que ligava os povoados à capital baiana. Em Lauro de Freitas, nome moderno para Santo Amaro de Ipitanga, houve um engenho na Estrada de Cagi, que serviu de abrigo, esconderijo e centro de recuperação para o General Labatut e os feridos das suas tropas. Camaçari também foi importante para a defesa, manutenção e sobrevivência de Salvador por causa da Vila de Abrantes.
O fogo simbólico percorreu todas as cidades até a tarde de ontem, quando chegou em Lauro de Freitas. Em ato à frente ao Centro Administrativo de Lauro de Freitas, com apresentações do Coral de Servidores da cidade e do cantor Edu Casanova, o fogo simbólico foi passado do vice-prefeito de Camaçari, José Tude, para as mãos da prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, que concedeu discurso para o público presente aos gritos de: “Viva Santo Amaro de Ipianga”.
“Este momento marca o quanto a história do Brasil e da Bahia precisa ser recontada de forma verdadeira. Estava mais que na hora de resgatar a participação desses municípios na consolidação da independência”, disse Moema.
Ao longo do percurso, o fogo está sendo carregado por diversas pessoas. A atleta e medalhista paralímpica na natação, a soteropolitana Verônica Almeida, vai ser a responsável por acender a pira na Praça do Campo Grande durante a celebração.
Comemorações
Salvador já vem respirando a data há alguns dias. Ontem aconteceu a estreia do espetáculo ‘A Resistência Cabocla’, do Bando de Teatro do Olodum, no Campo Grande. Mais duas apresentações acontecem hoje, às 17h, e às 19h.
Hoje haverá a celebração do Te Deum, com o Coral da Basílica do Bonfim, na Igreja da Catedral da Sé, no Terreiro de Jesus. No Largo da Lapinha terá show do Cortejo Afro.