Separados por nove anos, os assassinatos de Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, e Osil Vicente Guedes, de 49, compartilham várias semelhanças. Ambos foram vítimas de boatos mentirosos e de linchamentos por grupos de "justiceiros" no Guarujá, no litoral de São Paulo. As agressões brutais também foram registradas em vídeo e compartilhadas nas redes sociais.
Em 3 de maio de 2014, Fabiana foi amarrada, espancada e arrastada por moradores no bairro Morrinhos, após um boato se espalhar na internet. Casada e mãe de dois filhos, a mulher era acusada de sequestrar crianças, porém os boatos nunca foram confirmados pela Polícia Civil. Ela era inocente, e não havia nenhum boletim de ocorrência registrado contra ela.
Na época, uma página do Facebook chamada "Guarujá Alerta", com mais de 50 mil curtidas, publicou que uma mulher estaria raptando crianças na região. Um retrato falado e a foto de uma jovem loira — que não se parecia com Fabiana — também foram compartilhados.
Após sofrer o linchamento, Fabiana foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros com os pés amarrados e o rosto desfigurado. Ela chegou a ser internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Santo Amaro, com traumatismo craniano, porém não resistiu aos ferimentos e morreu em 6 de maio.
Acusado injustamente de roubar uma motocicleta, Osil foi agredido com um capacete e pedaços de madeira, além de ser empurrado e chutado, por pelo menos quatro homens na última quarta-feira (3), também no Guarujá. O caso ocorreu exatamente nove anos depois do assassinato de Fabiana.
De acordo com testemunhas, o espancamento começou após uma pessoa gritar "pega ladrão". Contudo, segundo o próprio dono da moto, ele havia emprestado o veículo. Osil foi mais uma vítima de um boato mentiroso e de um grupo de "justiceiros".
Proprietário de uma empresa de reciclagem e pai de um menino de 9 anos, o homem sofreu traumatismo craniano e deu entrada na UTI do Hospital Santo Amaro, a mesma unidade onde Fabiana foi socorrida há nove anos. Após três dias internado, a equipe médica constatou a morte encefálica.
De acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública), o caso foi registrado como homicídio no 2° Distrito Policial do Guarujá, que é responsável pela investigação. Até a publicação da reportagem, nenhum suspeito foi preso.
"O irmão da vítima foi ouvido. Diligências prosseguem visando ao esclarecimento dos fatos. Mais detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial", informou a pasta por meio de nota.
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