A família de Karoline Miranda, jornalista de 29 anos, vive uma angústia há sete meses: seu filho mais velho, Gael, de 9 anos, está com febre desde 28 de fevereiro, e a causa ainda é desconhecida. A mãe descreve a situação como uma “bomba-relógio”.
A mãe relatou que, nos últimos sete meses, o menino ficou com a temperatura normal no máximo por três semanas.
Os sintomas predominantes continuam sendo temperatura elevada e náusea intensa. Em 2022, durante um episódio de febre persistente, Gael foi hospitalizado, mas não foi identificada a causa, resultando em sua alta. Como a temperatura voltou ao normal, a suspeita foi de uma virose.
No entanto, no final de fevereiro deste ano, a febre retornou e persistiu. Inicialmente, suspeitou-se de sinusite e foram administrados antibióticos, mas a febre não cedeu. Quando levado a um especialista, esse diagnóstico foi descartado.
“O otorrino falou: ‘Ele não está com nenhum sinal de sinusite. Acredito que ele esteja com alergia, uma rinite. Não tem por que dar outro antibiótico, vamos tratar a alergia e vai ficar tudo bem’. Ele tratou para alergia e, realmente, ficou bem. Mas a febre não passou.” Karoline Miranda
Outro médico consultado chegou a duvidar da condição de saúde de Gael. Karoline relata que o profissional solicitou um exame de sangue “só para conferir”, e o resultado confirmou uma infecção.
“Ele passou um antibiótico mais forte, mas não adiantou” relembra a mãe.
Posteriormente, as suspeitas se voltaram para uma possível virose ou gastroenterite.
“Eles falavam ‘vai passar’ e a gente não aguentava mais receber esse tipo de resposta. No final, não passava. Os próprios médicos não sabiam o que estava acontecendo.”
A situação se prolongou por dois meses, até o final de abril. Karoline levou Gael à emergência com todos os exames dele, pois não suportava mais a angústia de ter uma criança com febre de 39,6°C em casa, sem atendimento.
“A médica entendeu a gravidade e solicitou a internação.”
Começava então uma saga paralela: a mãe de Gael teve que acionar a Justiça contra o plano de saúde para garantir a internação, pois o convênio não reconhecia a situação como emergência e alegava período de carência.
“Do dia que em que entrei na emergência até o dia em que foi a liberada a internação, foram 72 horas. Ficamos 72 horas com ele deitado na enfermaria esperando. Tratam a saúde como um negócio e a gente não tem escolha.” Karoline Miranda
“Ele foi testado para tudo”
Gael foi internado em 28 de abril e permaneceu 21 dias em um hospital particular no Rio. Durante esse tempo, passou por dezenas de exames. Novamente, as suspeitas eram de uma infecção de origem desconhecida e anemia severa.
Durante a internação, linfonodos foram identificados no abdômen de Gael, levando-o a passar por uma biópsia. Mais uma vez, Karoline enfrentou a palavra que, ao longo dos meses, se tornou temida: inconclusivo.
“Ele foi testado para praticamente tudo, as principais doenças e infecções por fungos e bactérias. Doenças do carrapato, toxoplasmose, tuberculose, bartonella [doença da arranhadura do gato]. Ninguém achou nada [que justificasse a febre] e ele foi liberado. Das principais suspeitas, todas já foram eliminadas.” Karoline Miranda
Gael também realizou um exame chamado painel genético, visando identificar possíveis doenças raras ligadas aos genes.
“Deu negativo para tudo” declara a mãe.
Nas redes sociais, Karoline compartilha, quase como um diário, os desafios dos últimos meses. Foi por meio delas que ela também pediu auxílio para custear alguns exames não cobertos pelo convênio.
Diagnóstico não explica febre
Atualmente, Gael é acompanhado por uma hematologista pediatra e uma infectologista, que identificaram que o menino tem talassemia, uma forma rara de anemia.
Este diagnóstico, entretanto, não esclarece as febres, pois não se trata de uma infecção.
“Prejudica, de certa forma, o corpo como um todo porque deixa a criança mais fraca. Mas não explica a febre porque anemia não é um processo infeccioso ou inflamatório.”
Neste instante, Gael aguarda os resultados de um sequenciamento do exoma (parte do genoma que codifica os genes) e um exame da proteína amiloide A.
“Bomba-relógio”
Antes dessa jornada, Gael era uma criança saudável. De acordo com a mãe, ele só tinha asma, o que era motivo de preocupação quando as condições climáticas mudavam, pois aumentava a susceptibilidade a crises respiratórias.
Diante de tudo o que enfrentou nos últimos meses, Karoline está exausta e por vezes já se perguntou se encontrará a causa das febres inexplicáveis de Gael.
Além de Gael, Karoline é mãe de uma bebê que tinha apenas um mês quando as febres dele começaram.
“Tenho de me desvelar neste cuidado enquanto cuido de um bebê que também exige atenção específica.”
Gael está em idade escolar e, entre os picos de febre, consegue frequentar as aulas. Na última semana, porém, passou mal e precisou voltar para casa. Há poucos dias, perdeu uma prova devido ao mal-estar.
“É muito angustiante, porque interpreto essa situação como uma bomba-relógio. As coisas estão bem com o Gael agora, ele tem uma febre e administro com dipirona. Mas a qualquer momento ele pode não estar bem. Pode piorar a um nível que não consigo controlar.”
Com informações O Segredo
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