Morreu na madrugada desta quinta-feira (7) o apresentador Raimundo Varela, que estava internado há cerca de dez dias em uma clínica em Salvador. Famoso no jornalismo popular da Bahia, o comunicador ficou famoso pelas batidas na mesa e os comentários que fazia durante os telejornais e, depois, nos programas de rádio.
O jornalista nasceu Raimundo Varela Freire Júnior em 30 de novembro de 1947, durante uma enchente, em uma casa simples em Itabuna, no sul da Bahia. Ainda criança, se mudou com os pais e os irmãos para Periperi, um bairro na periferia de Salvador. Filho de professores, teve uma infância humilde e sempre valorizou a educação.
Antes de se tornar um dos principais nomes da comunicação baiana, Raimundo Varela, ainda na adolescência, trabalhou como vendedor ambulante. Depois serviu ao Exército, estudou, se formou em administração e conseguiu emprego em uma fábrica de cimentos que ele mesmo ajudou a construir.
Também foi taxista e até jogador de futebol. Até então, era conhecido como "Raimundinho" e vestiu as camisas do Ypiranga, clube do coração, e do Leônico, clube pelo qual foi campeão baiano de 1966.
A vida de jogador não pagava as contas de casa e, por isso, Varela resolveu deixar os gramados. Assumiu a direção de um clube social em Periperi e, graças ao amigo famoso Raul Seixas, na década de 1970, começou a dar os primeiros passos na carreira de comunicador. A oportunidade na TV veio após um convite para ser jurado no programa de Waldir Serrão, o famoso "Big Ben", na antiga TV Itapoan.
O sucesso foi imediato e logo o jurado chamou atenção dos produtores da emissora. De convidado do programa de calouros, Varela conquistou o posto fixo de comentarista esportivo no "Papo da Bola". Ele já era polêmico e batia de frente com dirigentes de vários clubes. Essa coragem levou o apresentador a ganhar o primeiro programa: ao lado de Fernando José, ele liderou o "Telesporte".
Com o sucesso no programa esportivo, Varela conquistou a oportunidade de comentar no jornalístico "O Povo na TV". Com o novo desafio, conquistou ainda mais espaço e respeito, principalmente de quem vivia nas comunidades.
Varela passou a observar as necessidades da povo, o que o inspirou a criar um novo projeto a partir da ideia de unir o jornalismo popular com o assitencialismo. Então surgiu, em 1980, um dos programas de maior audiência do país: o Balanço Geral.
A batida na mesa e os comentários viraram marcas do apresentador, que conquistou a admiração dos telespectadores, artistas e autoridades. O sucesso na TV logo foi levado para o rádio e, na Rádio Sociedade da Bahia, Raimundo Varela também se tornou uma marca forte, se tornou referência com o Balanço Geral, sinônimo de respeito e credibilidade.
Em 2006, um grave problema de saúde quase encerrou a carreira do apresentador. Após uma crise renal, Varela atravessou um momento delicado. Com a saúde frágil, foi levado às pressas para um hospital de Salvador, onde a situação se agravou e provocou a transferência à uma unidade de saúde em São Paulo.
Varela permaneceu quase cem dias na luta pela vida até que a notícia que todos esperavam chegou. Um doador compatível surgiu e o apresentador foi submetido a dois transplantes: um de rim e outro de fígado. Após meses de incertezas, começava outra batalha: retonar para a TV.
Após esse período difícil, Varela voltou com todo o gás. O programa Balanço Geral liderou a audiência e se tornou referência para o jornalismo em todo o país. Com a chegada da pandemia, o apresentador passou a comentar de casa as principais noticias do dia. A tradicional batida na mesa não se enfraqueceu, e ele permaneceu distribuindo cartão na tela da RecordTV Itapoan.
O vermelho sinalizava o que precisava melhorar e o verde servia para elogiar, marcas de um comunicador que abraçou o povo e se dedicou até os ultimos dias à sua paixão, que era falar pelo povo e para o povo.