Levantamento recente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) revela um cenário preocupante: entre 2022 e 2025, pelo menos 222 pessoas sofreram complicações oculares graves após se submeterem a procedimentos cirúrgicos em mutirões oftalmológicos realizados no Brasil. Desse total, um dado alarmante aponta que 20% dos pacientes perderam a visão em um ou nos dois olhos.
A entidade alerta que esses números, compilados a partir de relatos de eventos adversos divulgados pela imprensa, demonstram a "gravidade do desrespeito aos critérios mínimos de segurança necessários para que atividades desse tipo sejam realizadas".
Um dos episódios mais recentes ocorreu em Campina Grande, no agreste da Paraíba, em 15 de maio. Após injeções de medicações intraoculares, mais de 30 pacientes apresentaram infecção. "Eles estão sendo atendidos e tratados com cirurgias, mas há alto risco de perda visual", informou o CBO.
Casos Recorrentes e Falhas na Segurança
O conselho reitera a importância de se observar os cuidados preconizados pelas autoridades sanitárias em todas as fases do planejamento de um mutirão, desde a proposição até o monitoramento pós-conclusão para eventuais efeitos adversos. "Para a entidade, esse cuidado é fator determinante para que os atendimentos gerem os efeitos desejados sem expor os pacientes a riscos evitáveis", destaca o CBO.
Problemas semelhantes aos de Campina Grande foram notificados em diversos estados nos últimos anos:
Guia de Orientação e Recomendações do CBO
Em outubro do ano passado, o CBO disponibilizou a gestores públicos e privados, profissionais de saúde e à população em geral o "Guia de Mutirões de Cirurgia Oftalmológica". A publicação oferece uma série de orientações, desde a organização do mutirão até os cuidados pós-operatórios, baseadas em protocolos clínicos e normas aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Para evitar eventos adversos graves, o CBO recomenda que mutirões oftalmológicos sejam realizados, preferencialmente, em estabelecimentos com histórico comprovado de prestação desse tipo de serviço. A entidade também enfatiza a responsabilidade das vigilâncias sanitárias (municipais ou estaduais) de monitorar as atividades para garantir o cumprimento de todas as exigências técnicas e operacionais.
Em relação à execução dos procedimentos, o conselho classifica como "imprescindível" que sejam realizados por médicos com Registro de Qualificação de Especialista (RQE) em oftalmologia. Por fim, após as cirurgias, é fundamental que os pacientes sejam acompanhados pela equipe responsável por até 30 dias. O CBO exige a comunicação imediata de eventos adversos à vigilância sanitária e, em caso de infecção, a interrupção do mutirão até a apuração das causas e a tomada de providências cabíveis.