Uma mulher, que prefere não se identificar, conta que, desde 2022, vive um verdadeiro inferno, juntamente com a sua filha adolescente, após a jovem ter sido supostamente estuprada por um servidor público municipal que trabalhava no Subúrbio 360°, em Salvador.
Ela conta que chegou à capital, no intuito de recomeçar a vida. Antes, elas viviam em uma ilha.
Desde então, a tentativa de construir uma nova história na capital, já que são da ilha, teve obstáculos contínuos. Por consequência, nesta segunda-feira (13), após denunciarem os casos, as duas deixaram o bairro onde moram. A suspeita é de que foram amedrontadas por traficantes locais.
De acordo com o relato da mulher, O acusado, um homem, de 47 anos, identificado pelas iniciais A. S. R., prometeu "cuidar" da integridade física das duas ao conhecê-las, pois elas mantinham uma barraca de vendas na parte externa do Subúrbio 360°. A filha da denunciante, de 17 anos na época, ajudava a mãe no negócio.
Com o passar dos dias, o acusado passou a despertar interesse pela garota, além de ameaçá-las e de aliciar a jovem, que era menor de idade, na época. “Ele me recebeu falando que tomava conta da área para que as pessoas não fizessem bagunça. Ao conhecer minha filha, percebi as investidas dele, começou a aliciá-la, estava insuportável. Sempre orientava a minha filha, com muito medo, como mãe solo, que havia criado com muito carinho, amor, porque sabia que era homem casado. Ela falava: ‘não, mãe, é só amizade”, explicou em entrevista.
De acordo com a mulher, o homem fingia proteção e foi se aproximando da garota. Até que um dia, ele se trancou com a garota em um depósito. “Dei um flagrante no funcionário que trancou minha filha em um depósito de material que foi cedido para guardarmos nosso material de trabalho. O funcionário assustado abriu a porta, falou que era brincadeira. Minha filha me relatou que estava sendo agarrada, ela nunca teve namorado e nem se relacionado”, detalhou.
A mulher conta que buscou ajuda junto à coordenação do Subúrbio 360° para relatar a perseguição, mas foi informada que tudo não passava de “escolha da adolescente”.
Após a saída da antiga coordenadora, a atual gestora sugeriu que a mãe procurasse a Delegacia Especializada de Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derrca) e pedisse uma medida protetiva. No entanto, a mãe hesitou em seguir adiante por falta de provas e pelo temor de represálias, já que sua filha negava o abuso por estar sendo ameaçada.
“Eu não fiz porque não tinha provas suficientes ainda, minha filha negava por ser ameaçada. Até que percebi mudanças no comportamento de minha filha, ela me cobrava porque eu tinha levado ela para Salvador, que tinha estragado a vida dela”, desabafou.
A mulher detalha como aconteceu o crime de estupro. “Ele foi até minha residência, bateu, ela abriu a porta, a beijou e vistoriou a casa toda. Quando percebeu que estava sozinha, ele levou para o meu quarto, fez o ato [estupro], ela rejeitou, sangrou porque era virgem. Depois, ele foi embora rapidamente. Ela se transformou depois, quase perdi minha filha por depressão”, contou a mãe, visivelmente abalada.
Somente agora, dois anos depois, ela procurou ajuda psicológica para a garota, na Casa da Mulher Brasileira e realizou um Boletim de Ocorrência contra o acusado. “Ele é envolvido em ações sociais na comunidade toda que respeita ele. Quando tomou ciência deste boletim de ocorrência, mandou uma pessoa armada, que chegou gritando, dizendo que o servidor tinha conseguido emprego para ele e a esposa, que tinha gratidão. Me chamou de vagabund*, me empurrou, apagou algumas provas de meu telefone”, contou.
Orientada por uma assistente social da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Periperi, a mãe procurou o Conselho Tutelar, que encaminhou o caso para a Derrca. No entanto, as escutativas foram agendadas apenas para setembro.
Amedrontadas, elas aíram do bairro e estão escondidas em casas de parentes. Diante da gravidade da situação, a Derrca chegou a antecipar as escutativas e pediu desculpas pela demora.
Procurada, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) de Salvador informou que, ao tomar conhecimento dos fatos, efetuou o desligamento do funcionário.
“O suposto ocorrido aconteceu fora do ambiente escolar, há dois anos, quando a suposta vítima mantinha um relacionamento com o acusado e ambos eram maiores de idade. O funcionário foi desligado da empresa prestadora de serviço à Smed", informou a secretaria à reportagem.
A mãe também relatou que a gestora tomou conhecimento da denúncia, mas disse que não poderia demitir o funcionário por ele ser protegido politicamente. Em vez disso, o orientou a pegar um atestado e se afastar.
Após o entendimento do que sofreu, a jovem iniciou a faculdade de Direito com o objetivo de, no futuro, ajudar outras vítimas de abusos sexuais.
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