Morreu o sequestrador Gilvan Dias Damasceno Santos, mais conhecido como Carrasco, que fez uma mulher de 19 anos e o bebê dela, um menino de 1 ano e 3 meses, reféns no bairro da Engomadeira, em Salvador, nesta segunda-feira (5). Ele foi baleado durante o processo de negociação, socorrido para o Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula, mas não resistiu aos ferimentos. A mulher também foi baleada e está internada. O bebê escapou sem ferimentos.
Era por volta das 5h quando Carrasco invadiu a casa da manicure Raíssa, 19 anos, na Rua São Tomás, próximo ao final de linha. A mulher estava com o filho quando foi surpreendida. A Polícia Militar informou que o criminoso tem passagens por homicídios e tráfico de drogas, com mandado de prisão em aberto e era considerado foragido do sistema prisional desde 2020.
A PM informou também que, no momento da ocorrência, o bandido estava fugindo de equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), mas não explicou o contexto que levou a perseguição.
O caso mexeu com a rotina do bairro. Moradores lotaram a pequena rua São Tomás e outros acompanharam a negociação das sacadas e varandas das casas vizinhas. Os militares formaram um cordão de isolamento e fizeram a multidão recuar cerca de 50 metros enquanto negociavam a rendição do bandido. Foram mais de 7h de negociação.
Durante esse processo, novas viaturas da 23ª Companhia Independente da PM (CIPM/ Tancredo Neves) e da Rondesp Central reforçaram o policiamento, e uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ficou posicionada na esquina. O marido de Raíssa tentou entrar no imóvel com uma mamadeira para o bebê, que ainda permanecia sobre a mira de Carrasco, sem sucesso.
Testemunhas contaram que os policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo para afastar a população e que poucos minutos depois Raíssa foi retirada da casa baleada na cabeça. Os policiais garantem que ela foi atingida pelo sequestrador, enquanto moradores culparam os militares de terem atirado. A mulher foi posta em uma viatura e socorrida para o Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula, onde segue internada. O estado de saúde dela é considerado grave.
Desfecho
Alguns minutos depois da mulher ser socorrida, a criança foi entregue ao pai, os dois atravessaram a multidão emocionada e entraram em uma casa. Em seguida, os policiais retiraram Carrasco do imóvel, enrolado em um lençol, colocaram na parte traseira de uma viatura e seguiram para o Hospital Geral Roberto Santos.
Houve um momento de tensão na saída de Carrasco. Moradores hostilizaram a corporação e atiraram objetos contra os policiais, como cones, pedaços de madeira e garrafas pets. Uma mulher passou mal e desmaiou. Uma moradora, que pediu para não se identificada, acusou os militares de truculência.
"Eles chegam no bairro atirando, tratando todo mundo como bandido e xingando pai e mãe de família. Queremos que o ferimento de Raíssa seja investigado, queremos saber a verdade sobre como ela foi baleada, porque eles não deixaram ninguém acompanhar de perto a negociação", disse, emocionada.
Os militares entraram nas viaturas e saíram logo após o socorro a Carrasco. O comandante da 23ª CIPM, Luciano Jorge, contou que o sequestrador foi intransigente durante a negociação, que ele baleou a vítima e que foi atingido em seguida. Uma pistola e munições foram apreendidas com o bandido.
"O mais importante era liberação do refém. Nossa prioridade era o bebê de 1 ano e 3 meses. Ele foi encaminhado ao Samu para os primeiros atendimentos. Infelizmente o criminoso se mostrou insensível à negociação a ponto de fazer o disparo. A casa vai ter perícia e todo esse desfecho vai aparecer nas investigações", afirmou.
Carrasco cumpria uma pena no regime semiaberto quando foi beneficiado pela saída temporária. O motivo não foi divulgado. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), ele deveria retornar ao presídio, mas não voltou. A evasão aconteceu em 17 de junho de 2020, e ele passou a ser considerado foragido.
A advogada de Carrasco, Desirée Ressutti, contou que ele foi atingido três vezes no peito e duas vezes na cabeça. A mulher disse que, durante a negociação, ela tentou fazer contato com o cliente, mas foi impedida pelos negociadores da PM. Ela denuncia que foi atingida nas pernas pelas bombas de gás lacrimogêneo.
"Quando eu cheguei, o comandante não me deixou entrar. Eu dei a volta na rua com o pessoal da comunidade para tentar ficar mais próxima da casa e foi aí que os militares jogaram bombas em cima da gente", disse.
Moradores disseram que o uso das bombas foi desnecessário. O CORREIO questionou a Polícia Militar sobre o contexto em que o equipamento foi usado, mas a corporação não se manifestou. Por conta do conflito, os ônibus pararam de circular na Engomadeira, sem previsão de retorno.
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