“Eu senti uma dor aguda e não entendi o que era. Quando me levantei, vi que era um escorpião e fiquei assustada”. Quem conta a história é Débora Souza, estudante de 45 anos. Para ela, a tarde de fevereiro que reservou para matar a saudade dos tios em Tucano, no nordeste do estado, se tornou um dia de temor quando foi picada por um escorpião na roça da família.
O caso da administradora foi um dos 10.504 registrados do primeiro dia de janeiro até a última segunda-feira (15), de acordo com dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). Isso significa, em média, 53 casos de acidentes por escorpião por dia no estado. No mesmo período, foram registrados 21 óbitos.
E o número de casos aumentou este ano. Se comparamos os meses já completos, de janeiro a junho de 2023 foram 10.387 casos, contra 10.481 do mesmo período deste ano. Um acréscimo de 94 registros em 2024.
Geralmente, esses animais são encontrados em locais onde há oferta de alimento e abrigo, como locais com esgotos, ralos de cozinha e banheiro, caixas de gordura abertas, pilhas de madeira, acúmulo de restos de material de construção e acúmulo de lixo. Quem explica é o diretor do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia (CIATox-BA), Jucelino Nery.
“Nessas situações, ao se aproximarem das residências, pela sua facilidade de adaptação e ao encontrarem estas condições propícias, muitos insetos como baratas e cupim, e local para se protegerem como ralos, esgotos, material acumulado, ali se instalam”, diz.
As duas espécies mais comumente encontradas na Bahia e que mais causam acidentes são o escorpião amarelo (de nome científico Tityus serrulatus) e o escorpião-do-nordeste (Tityus stigmurus). O escorpião amarelo é o mais perigoso do Brasil, com veneno que pode levar à morte. Já o listrado não oferece tanto risco, apenas dormência e dor no local da picada.
Segundo Nery, mesmo com o alto número de casos nos primeiros meses, a incidência de escorpionismo - o acidente por picada de escorpião - acontece mais no quarto trimestre do ano.
A maior frequência, segundo o especialista, está diretamente relacionada ao clima. Isso acontece porque, no calor, os escorpiões ficam mais ativos e passam a buscar mais alimentos. Quando chove muito, esses animais geralmente são desalojados e passam a buscar proteção.
“A soma dos dois fatores resulta no aumento de casos. Os acidentes são mais frequentes nos meses mais quentes e chuvosos, em geral, características mais marcantes a partir do mês de setembro, quando o número de casos começa a aumentar de forma mais significativa, ainda mantendo-se elevado no primeiro trimestre do ano seguinte, com redução importante no terceiro trimestre”, revela Nery.
Desde que foi picada por um escorpião em 2016, a estudante Sarah Deily, de 23 anos, faz questão de manter a casa dedetizada e ter atenção redobrada com ambientes mais escondidos da casa.
Ao encontrar um escorpião em casa, como foi o caso de Sarah, deve-se fazer revisões gerais para checar se existem outros, afirma o professor Artur Dias Lima, doutor em Biologia Parasitária, docente de ecologia médica da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
Segundo ele, para evitar a presença do animal, é necessário também usar veda portas e tampar os ralos dos esgotos, locais por onde os escorpiões podem acessar as residências.
“Também é importante informar aos serviços de saúde locais sobre a ocorrência destes animais peçonhentos. Para evitar acidentes, sacudir roupas e calçados quando for fazer uso”, orienta.
O especialista conta ainda que a ciência ainda não encontrou um veneno eficaz para controlar escorpiões. Dessa maneira, para tentar impedir a presença do animal, é preciso focar em higiene e saneamento nos domicílios, quintais e terrenos baldios.
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