Era uma noite de festa para celebrar a cultura negra em Salvador, quando a assistente social Beatriz Portela, de 28 anos, iniciou uma saga que terminou com três entradas na emergência oftalmológica, uma hemorragia ocular e a córnea danificada. A causa: pomada de cabelo.
O caso aconteceu no dia 27 de novembro de 2022, mas traz sequelas para ela até hoje. Beatriz usou uma pomada modeladora capilar da Muriel Cosméticos, que era liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O órgão determinou uma interdição cautelar do produto no dia 18 de janeiro deste ano. No entanto, a pomada e suas variações seguem sendo vendidas no site da marca. O g1 tentou contato com a Muriel, mas não conseguiu localizar um porta-voz da empresa.
"Eu fiz o penteado e, como meu cabelo é bem crespo, passei bastante pomada. Estava chovendo muito na festa e começou a escorrer. Aí meu olho começou a irritar muito. Como eu estava com lente de contato, eu achei que a irritação era por causa da lente. Eu nunca tinha ouvido falar nessa irritação por causa da pomada", contou Beatriz.
A jovem lavou os olhos, mas ainda assim, a irritação permaneceu e no dia seguinte o aspecto estava mais grave que o no dia anterior. Foi quando ela procurou uma emergência oftalmológica pela primeira vez.
“Quando acordei estava muito pior. Eu fui lavando com soro e foi piorando. Eu então fui na emergência do Hospital da Bahia e quando cheguei lá, estava lotado. A médica que me atendeu falou que já tinha atendido mais de 20 meninas com a mesma situação: irritação profunda nos olhos. Aí ela perguntou se eu tinha usado a pomada e eu disse que sim. Foi aí que eu descobri que tinha sido por causa disso.”, conta.
Na unidade de saúde, Beatriz conversou com outras jovens que também estavam com os olhos irritados pelo mesmo motivo. A jovem foi atendida e medicada, voltando mais de uma vez à emergência porque o problema se agravou.
Segundo a assistente social, dois dias após a primeira irritação ela não conseguia mais abrir os olhos. Ela precisou usar lente de curativo, porque estava com a córnea danificada.
“No dia 29 [de novembro], eu já não conseguia abrir mais o olho. Eu estava usando uma lente de curativo, porque a médica disse que minha córnea estava muito danificada. Mas meu olho simplesmente não abria. Aí voltei desesperada para a emergência e outro médico que estava lá me avaliou de novo. Ele passou três colírios, pomada e disse que meu olho estava comprometido”, relatou.
Beatriz Portela ficou um dia inteiro sem conseguir enxergar e quando abriu os olhos, percebeu que saía sengue, uma hemorragia.
“Eu só consegui abrir os olhos no dia 30 [de novembro] de tarde. Fiquei mais de 24 horas sem conseguir enxergar nada. Quando eu achei que estava melhor, tive uma hemorragia no olho direito, fiquei lacrimejando sangue. Aí eu voltei na emergência pela terceira vez e continuei usando medicação”.
Ainda segundo a jovem, mesmo após um mês da situação, a visão continuou comprometida. Ela também precisou ser afastada das funções no trabalho, cerca de 8 dias.
“Fiquei cerca de um mês com a visão comprometida, oito dias afastada do trabalho, e quando voltei não consegui nem apresentar uma reunião no trabalho”, conta.
Depois de descobrir pela médica que a pomada tinha causado as irritações e lesões, Beatriz seguiu as recomendações da embalagem e dos profissionais de saúde. Ela pensou em processar a empresa, mas desistiu.
“Cheguei a guardar notas fiscais e relatórios médicos, mas achei que não valia o desgaste. Eu vi depois um caso no Rio de Janeiro, que não tinha dado em nada, então desisti”.
A Anvisa disponibilizou um formulário para as pessoas que tiveram o mesmo problema com o produto, para registrarem uma ocorrência. Também foi disponibilizado um link para que os usuários possa confirmar a regularidade dos produtos.
O iBahia entrou em contato com Murial, mas não conseguiu localizar um porta-voz da empresa.
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