Entrando na tendência do pré-lançamento do filme da Barbie, uma vendedora de acarajé de Salvador resolveu inovar e tingir a massa do tradicional quitute baiano com a cor rosa-choque. Drica Cerqueira, proprietária do "Acarajé da Drica", estava na expectativa de atrair mais clientes, mas ela não imaginava que também atrairia muitas críticas, incluindo as da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM), que repudiou a atitude dela.
Tudo começou depois de Drica, que tem estabelecimentos nos bairros de Paripe e Itapuã, ter anunciado a venda do “acarajé da Barbie” na segunda-feira (17). A novidade se espalhou nas redes sociais e chegou até a Associação das Baianas, que declarou que a empreendedora não é uma “baiana de verdade” e disse que ela faltou com respeito às tradições. Drica Cerqueira, por sua vez, se defendeu, afirmou que não desrespeitou ninguém e que só desejava se diferenciar no mercado.
“Ela é meramente vendedora. Vive para vender bolinho de feijão, nem acarajé ela vende”, disparou Rita Santos, coordenadora da ABAM, através de um vídeo publicado nas redes sociais. A representante da associação ainda afirmou que Drica não se enquadra no perfil do grupo: “Baiana de acarajé, de fato e de direito, é aquela que preserva a nossa cultura, valoriza os nossos antepassados, e aquela meramente vendedora, que vai vender pelo dinheiro. Essa é uma baiana que está vendendo pelo dinheiro”.
Em entrevista ao Portal MASSA!, a coordenadora nacional da ABAM, Rita Santos, relembrou que o acarajé é patrimônio imaterial, sendo um símbolo da ancestralidade e da cultura do povo preto, e declarou que a mudança foi desrespeitosa. “Isso é brincar com a cultura. Com a cultura não se brinca, cultura é coisa séria!”, detonou.
A coordenadora comparou a atitude de alterar a coloração do acarajé, que também é um símbolo religioso para o Candomblé, com a alteração de simbologias de outras religiões. “Ninguém muda os outros símbolos. Ninguém coloriu uma hóstia de rosa, por que o acarajé sim?”, questionou.
A criadora do primeiro acarajé rosa do mundo, Drica Cerqueira, não se arrepende da sua inovação e disse ao Portal MASSA! que não se importou com as críticas. “A minha culinária eu faço da forma que eu quero”, disparou. Ela contou que seguiu a tendência de várias outras empresas e que usou anilina comestível, “que não diferencia em nada o sabor”.
A empreendedora também alfinetou a Associação Nacional das Baianas de Acarajé após a declaração de que Drica não seria uma baiana de verdade. “Elas acham que só elas que são baianas, que só elas têm o direito de vender”, desabafou. Drica ainda sugeriu que elas abrissem a mente para as novidades.
Tirando o sustento do acarajé há muitos anos, Drica herdou a paixão pelo quitute da mãe, que tem 30 anos de tabuleiro e é evangélica. “Eu vivo do acarajé há 17 anos e os meus clientes sempre falam do sabor, da perfeição e da higiene, higiene que não enxergo em muitas delas”, falou a baiana.
Por fim, Drica negou estar desrespeitando a tradição e pediu compreensão da ABAM. “Eu respeito, jamais vou desrespeitar, mas elas têm entender que precisam evoluir a mente”, concluiu.