Nesta quarta-feira (14), data que marca os 190 anos da execução de mártires da Revolta dos Malês, começará a escavação de um cemitério de escravizados descoberto no estacionamento da Pupileira, em Salvador. O local, identificado pela arquiteta e urbanista Silvana Olivieri em sua pesquisa de doutorado na UFBA, pode conter corpos de rebeldes mortos no maior levante de escravizados da Bahia, além de vítimas de outras revoltas, como a dos Búzios (1798) e a Pernambucana (1817).
Silvana cruzou documentos históricos, incluindo mapas do século 18 e imagens de satélite, para localizar o sítio, que funcionou por 150 anos até 1844. Administrado inicialmente pela Câmara Municipal e depois pela Santa Casa, o cemitério recebia corpos em valas comuns, sem cerimônias religiosas – incluindo escravizados, indígenas, ciganos e pobres.
Em janeiro de 1835, cerca de 600 africanos, majoritariamente muçulmanos (chamados “malês” em iorubá), se rebelaram em Salvador. O plano de libertar um líder preso fracassou, resultando em mortes e execuções. Alguns desses mártires podem estar enterrados no local.
Após apresentar a descoberta à Santa Casa e ao Iphan em 2024 sem resposta, Silvana e o professor Samuel Vida (UFBA) acionaram o MP-BA, que garantiu a escavação. “O cemitério foi apagado da história e da paisagem”, afirma a pesquisadora.
Antes das escavações, marcadas para as 14h, um ato religioso homenageará os mortos. Ainda não se sabe quantos corpos estão no local, mas a escavação promete resgatar uma memória há dois séculos esquecida.