Aline precisava de 32 votos favoráveis para ser nomeada ao posto. Ela concorreu contra Tom Araújo, ex-deputado estadual da Bahia que deixou de disputar a reeleição em 2022 para tratar um câncer no intestino. Mesmo prometendo independência em sua atuação no TCM-BA, a enfermeira não se dissociou do marido durante a campanha para conquistar os votos dos deputados. Costa se encontrou mais de uma vez com deputados no último mês e participou de uma reunião de secretariado do atual governador, Jerônimo Rodrigues, na semana passada.
Para se candidatar ao posto de conselheira, a mulher do ex-governador valeu-se de sua trajetória como gestora pública em unidades de saúde do estado, onde atuou como assessora especial da Secretaria de Saúde da Bahia entre 2012 e 2014. Posteriormente, ela assumiu a presidência das Voluntárias Sociais da Bahia de 2015 a 2022. A entidade é presidida sempre pela primeira-dama do estado.
Mesmo contando com o apoio do marido, o nome de Aline para o TCM enfrentou uma forte oposição e, até mesmo dentro do PT, a candidatura da ex-primeira-dama foi criticada. Entre os políticos que se posicionaram contra a indicação está o também ex-governador da Bahia e atual líder do governo Lula no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), aliado de Costa. Durante o carnaval, o senador defendeu ao portal “BNews” que a vaga no TCM ficasse com um parlamentar, em referência à candidatura de Tom Araújo. A mulher de Wagner, Fátima Mendonça, fez coro ao marido e cutucou a candidatura de Aline: “Eu digo que é desnecessário, pode ser tantas coisas. Só tem esse caminho?”, questionou, em entrevista ao site “Bahia Notícias”.
Antes da votação, deputados de oposição discursaram no plenário e questionaram a ligação de Rui Costa com a nomeação da mulher como conselheira.
— O TCM exerce o controle exatamente sobre os gastos dos municípios. Temos que ter uma pessoa competente para exercer a função e que isso não seja imposto por conta de uma força política, de influência política, desrespeitando não apenas a legalidade, mas nos colocando em uma situação de imoralidade — falou o deputado estadual Leandro de Jesus (PL-BA).
Choro em sabatina
Durante sabatina na Comissão de Constituição de Justiça, nesta segunda-feira, Aline se emocionou ao discursar. A enfermeira de formação falou sobre as críticas de que foi alvo por concorrer ao cargo mesmo sendo casada com o ex-governador do estado.
— Já faz algumas semanas que, quando o meu nome foi colocado para apreciação da Assembleia Legislativa como postulante ao cargo de conselheira do Tribunal de Contas, passei a ser alvo sistemático de uma série de ataques. Críticas são normais na democracia e eu as aceito naturalmente, ainda que discorde delas. O problema maior é que muitas dessas críticas foram de cunho pessoal, verdadeiras agressões a uma mulher, tentando me desqualificar apenas por eu ser casada com o ex-governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa — falou Aline Peixoto, que neste momento se emocionou e foi aplaudida pelos parlamentares.
Outros casos
Aline não é a única mulher de ministro indicada a uma vaga de conselheira, cujo salário é de R$ 35 mil e a estabilidade pode chegar até os 75 anos. Rejane Dias, mulher de Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social, foi eleita para o Tribunal de Contas do Piauí. Renata Calheiros, casada com Renan Filho (MDB), vai ocupar uma vaga no Tribunal de Contas de Alagoas. E a ex-deputada estadual Marília Góes, casada com o ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, está hoje no Tribunal de Contas do Amapá.