Após denunciar o desaparecimento dos jovens Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento, de 24 anos, e Matuzalém Silva Muniz, de 25, as famílias suspeitam que o dono do ferro-velho onde eles trabalham tenha envolvimento no sumiço. Os trabalhadores foram vistos pela última vez na segunda-feira (4). Nesta quinta-feira (7), o Corpo de Bombeiros foi até o local para realizar buscas, mas só deve retornar ao local após ter a entrada autorizada nas dependências da propriedade.
Familiares dos dois jovens contam, em entrevista, que ambos começaram a trabalhar no local há cerca de três semanas, sem vínculo empregatício formal, e nunca haviam comentado situações de violência envolvendo o dono da empresa. A única reclamação era sobre as condições de trabalho.
De acordo com uma tia de Paulo Daniel, morador do bairro de Saramandaia, os trabalhadores eram submetidos a uma carga horária extensa, das 7h às 19h, com poucos ou nenhum direito. “Ele só tinha mesmo o horário do almoço, que era de 20 a 30 minutos, comia e tinha que voltar logo, tinha que ser bem rápido. Era trabalho escravo. Eles nem podiam beber água”, relata.
“Ele nunca tinha mencionado nada para ninguém da família, nenhuma situação diferente, apenas que era um lugar escravo e que se eles conversassem, ele [o chefe] descontava do valor, que eles não podiam usar celular no local e se parassem para ir ao banheiro também era descontado do salário", complementa a irmã de Matuzalém, morador de Periperi e pai de um menino de 4 anos.
Além das condições que eram oferecidas aos trabalhadores, as famílias começaram a desconfiar de um possível envolvimento do dono pelo histórico de tratamento a outros trabalhadores. “Tem a suspeita porque vários funcionários que trabalharam com ele vieram relatando a respeito das agressões que ele tinha, tinha gente que conseguia sair, tinha gente que não. Ele ameaçava o pessoal também”, conta a irmã. De acordo com o relato dela, o homem tinha o costume de pagar apenas parte dos valores combinados e prometia pagar o restante em outro dia, como forma de manter os trabalhadores no serviço.
O homem apontado como suspeito pelas famílias chegou a entrar em contato com a esposa e mãe do filho de 2 anos de Paulo Daniel. “[Ligou] ontem até, dizendo que não tinha nada a ver com isso”, diz a tia. A família de Matuzalém, por outro lado, não teve contato algum com o empresário.
As famílias se dirigiram à delegacia na terça-feira (5), após os dois jovens não retornarem às suas casas na noite anterior. O último contato feito com as esposas foi na tarde da segunda. “A esposa pediu para que ele fosse para casa mais cedo e ele disse que não iria porque o cara descontava. Em vez de descontar meia diária, descontava o dia todo e ele não iria perder o dinheiro dele”, contou a tia de Paulo.
Nesta quinta, o Corpo de Bombeiros realizou buscas externas no ferro-velho utilizando um cão farejador. De acordo com Tenente Coronel dos Bombeiros Militares Guanais, o animal identificou o cheiro de Daniel na região do portão do ferro-velho, o que indica que ele passou pelo local. “A partir de agora, para a gente seguir nas buscas, a gente precisa ou da autorização do proprietário ou através do apoio da Polícia Civil, que tem sido muito diligente, através da Justiça também, do mandado autorizando a nossa entrada”, disse à imprensa.
Contatada, a Polícia Civil informou que faz buscas para localizar os dois desaparecidos, mas não confirmou o envolvimento do empresário, que não é oficialmente nomeado suspeito. O CORREIO não conseguiu contato do dono do ferro-velho.