Além de ter a mão amputada após se internar para dar a luz, uma mulher de 24 anos do Rio de Janeiro continuou passando dificuldades após ter alta. Segundo a família dela, cerca de 45 dias depois do parto, e já sem a mão, ela precisou se submeter a um procedimento de curetagem por sucção - raspagem da cavidade uterina - porque o hospital teria esquecido algum material dentro da jovem.
"Cerca de 45 dias depois do parto, minha filha teve um sangramento, uma hemorragia. Foi para o hospital, e lá disseram que ela teria que se submeter a uma nova cirurgia porque esqueceram alguma coisa dentro dela, mas não souberam dizer o que era porque não tinham um exame de imagem para analisar antes. Foram direto fazer a curetagem por sucção, e ela teve que ficar mais dois dias internadas", conta a mãe da mulher.O procedimento foi realizado no Hospital da Mulher Intermédica de São Gonçalo, mas o erro teria sido cometido na unidade do Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, onde a jovem teve seu bebê, de parto normal, mas, por causa de uma hemorragia logo após o nascimento, precisou receber um acesso na veia.
Esse acesso gerou um inchaço e roxidão na mão da mulher.
"Lá em Jacarepaguá, eles não fizeram nada na mão dela. A mão estava inchada, enorme, e foi ficando roxa, preta. A única coisa que eles sabiam fazer era colocar uma compressa com um gel, que eles esquentavam no microondas e colocam em cima. Mas, uma hora estava tão quente, que queimaram a mão dela, chegou a sair a pele", conta a mãe.
Na sequência a jovem foi transferida para a unidade de São Gonçalo, que teria mais recursos para atendê-la.
A transferência que seria de urgência e deveria acontecer às 4h da manhã do dia 11 de outubro de 2022, só aconteceu às 22h20.
A mãe da jovem conta ainda que ela seguiu para o novo hospital sem prontuário médico.
"Chegando lá, eles não sabiam o que tinha acontecido. Tentaram ganhar tempo para ver se os documentos dela chegava, mas nada. Quando foi no dia 16 de outubro, disseram que tinham que amputar a mão porque desconfiavam que ela tenha tido um quadro de trombose e, tinham que operar para tentar salvar o braço, que já estava sendo afetado pela situação da mão", conta a mãe.
A jovem voltou para a casa no dia 27 de outubro, 17 dias após ter saído de casa bem para dar à luz. Esse foi tempo que ela levou para conhecer seu bebê.
"Eu nunca tive problema de circulação, nem inchar na gravidez eu inchei, meu pré-natal foi todo normal. Eles roubaram a minha vida, a oportunidade de ver o meu filho nos primeiros dias, de amamentar", disse a jovem e conversa com o g1.
A paciente afirma que ainda sofre com as consequências da amputação.
"Tem um mês que tive coragem de olhar para o meu braço sem mão. Não gosto de olhar. Ainda não me aceito nessa nova versão", diz.
A advogada que cuida do caso afirma que já entrou na Justiça contra a unidade de saúde, e que um inquérito policial foi registrado na 41ª DP, no Tanque, para dar início às investigações do caso.
“Isso foi uma sequência de erros que devem ser todos apurados, nas esferas criminal, administrativo e cível. Vamos pedir as reparações de que tem a responsabilidade civil: dano estético, dano moral e material. E vamos fazer um levantamento da parte da imprudência, negligência e imperícia, que é a parte criminal”, destacou a advogada Monalisa Gagno.
Por meio de nota, o Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá afirmou que se solidariza com a vítima e lamenta o ocorrido. A unidade afirmou ainda que vai apurar o caso e os procedimentos adotados durante o atendimento da jovem e disse estar à disposição para esclarecimentos.
A Polícia Civil informou que o caso foi registrado na 41ªDP (Tanque) como lesão corporal culposa, que está ouvindo testemunhas e que pediu os documentos médicos para ajudar nas investigações.