Ainda abalada com o ocorrido, mulher que salvou 9 pessoas do naufrágio com 8 mortos na Ilha de Maria Guarda na Bahia relata tensão.
"Não consigo dormir desde o dia. Os gritos e pedidos de socorro não saem da minha cabeça". Esse é o relato da funcionária pública Melinda Santos, que estava em uma embarcação quando viu o barco que naufragou na cidade de Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador. A tragédia terminou com oito pessoas mortas e seis feridas.As vítimas voltavam de uma festa na Ilha de Maria Guarda em direção a cidade de Madre de Deus, distância de cerca de 2 quilômetros. Segundo Melinda Santos, ela tinha trabalhado no evento e retornava com materiais da prefeitura para o píer do município.
A funcionária pública e colegas conseguiram resgatar nove pessoas, entre elas duas crianças que estão bem.
"Estava tudo muito escuro, não conseguíamos enxergar nada, mas ouvimos gritos de longe. Quando nos aproximamos, vimos a embarcação afundando, pessoas gritando e pedindo pelo amor de Deus para salvar os filhos", relatou.
De acordo com a funcionária pública, ela e os colegas tiveram dificuldades para socorrer as vítimas que, desesperadas, tentavam invadir o barco que estavam."A gente se aproximava e recuava, porque todo mundo queria subir no barco ao mesmo tempo. Jogamos os coletes de salva-vidas, mas o vento estava contrário e eles não conseguiam alcançar", afirmou Melinda.
A funcionária pública ainda contou que ligou para um colaborador da prefeitura, que aguardava os colegas no píer, e pediu socorro. O homem entrou em contato com a Marinha.
"Tinha uma mãe que estava com um menino de 6 anos. Ela gritava muito pedindo para a gente ajudar. Um rapaz, que eu não sei identificar, gritava: 'Eu disse que não era para pular, que não era para ir para o outro lado"", contou a mulher.
"No primeiro momento, a gente fica com a sensação de que poderia fazer mais, porque não queríamos que tivesse óbitos, mas foi uma coisa inevitável".
Os corpos da sétima e oitava vítimas do naufrágio foram encontrados por pescadores na manhã desta terça-feira (23).
As vítimas foram identificadas como Alicy Maria Souza dos Santos, de 6 anos, e Vandersson Epifânio Souza de Queiroz, de 42. Os corpos foram encontrados próximo à Ilha de Maria Guarda, onde aconteceu a festa em que os passageiros estavam.
Encontrados corpos de criança e homem vítimas do naufrágio na Bahia — Foto: Reprodução
A Polícia Civil investiga se houve excesso de passageiros na embarcação. O piloto do barco, identificado como Fábio Freitas, foi identificado e será ouvido. A filha e o neto estão entre os mortos.
A defesa do piloto informou que ele vai se apresentar e contar a versão dele sobre os fatos.
Prefeito de Madre de Deus fala sobre luto da cidade diante do acidente
Nesta terça, o prefeito da cidade, Dailton Filho, contou que ainda não decidiu se o Madre Verão, que terminaria durante o próximo final de semana será cancelado.
"Confesso que nesse momento não estou preocupado com evento, estou preocupado com meu povo, que está sofrendo, passando por esse momento delicado. Estou preocupado com os sobreviventes, com as famílias, os amigos, minha comunidade, porque essa tragédia feriu nosso coração", afirmou.
A Marinha do Brasil tinha informado que a embarcação fazia transporte irregular de passageiros. O veículo "Gostosão FF" é inscrito na classe "saveiro", para uso exclusivo em atividades de esporte ou recreio. Isso significa que o barco não era habilitado para o uso comercial.
A embarcação fazia o trajeto da Ilha Maria Guarda para o município, que fica em uma região turística que registra alto movimento neste período do ano. O naufrágio aconteceu por volta das 22h, quando os passageiros voltavam de uma festa.