O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promulgou, nesta terça-feira (7), uma lei que oficializa o forró como uma manifestação cultural nacional do Brasil. O gênero musical agora se une a diversas outras expressões culturais reconhecidas como manifestações artísticas de origem brasileira, tais como escolas de samba, festas juninas e a música gospel.
De acordo com o projeto de lei, o forró é considerado um dos gêneros musicais mais genuinamente brasileiros, tendo suas raízes na Região Nordeste e resultando da fusão de estilos tradicionais como baião, xaxado, coco, arrasta-pé e xote, com uma trajetória que abrange aproximadamente sete décadas. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) oficializou o reconhecimento das matrizes tradicionais do forró como Patrimônio Cultural do Brasil em 2021.
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“Um passo gigantesco para o nosso forró nordestino, e que passará a ter muito mais grandeza, respeito e possibilidade de fazer parte das políticas públicas em nosso país”, declarou o deputado federal Zé Neto (PT-BA) nas redes sociais.
Estavam presentes na cerimônia de assinatura, além de Zé Neto, a senadora Teresa Leitão (PT-PE), responsável por relatar o projeto no Senado, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. O forró alcançou a 12ª posição em uma lista que abrange práticas, locais e eventos oficialmente designados como manifestações culturais nacionais e/ou patrimônios culturais imateriais do Brasil desde 2010.
Nesse mesmo ano, o então presidente Lula, no término de seu segundo mandato, conferiu o reconhecimento à Feira de São Cristóvão, situada no município do Rio de Janeiro (RJ), como Patrimônio Cultural Imaterial. A relatora do PL lembra da importância econômica do ritmo para a região. "Além de sua importância cultural, o forró também tem grande importância para a economia brasileira. Festivais de forró atraem turistas de todo o País e do mundo e injetam recursos nas comunidades locais, promovendo o desenvolvimento econômico dessas regiões", afirma.
Setores envolvidos no fomento ao forró musical podem ter agora benefícios com recursos advindos, por exemplo, da Lei Rouanet. Na argumentação para a apresentação do projeto, Zé Neto declarou que o forró serve como um meio de “difundir a alegria da cultura do Nordeste para todo o Brasil”.
Outras quatro manifestações culturais foram devidamente reconhecidas também este ano, como as festas juninas, as escolas de samba, o Carnaval de Novas Russas, no Ceará, e a utilização do transporte de passageiros conhecido como "pau de arara" em romarias religiosas.
A seguir, a lista de práticas, locais e eventos já reconhecidos como manifestações culturais nacionais ou patrimônios culturais imateriais:
Há mais sete projetos ainda em tramitação no Congresso Nacional, são eles: Carnaval de Pernambuco, cristianismo, modos de produção dos instrumentos musicais de samba, rodeio crioulo, artesanato em Capim Dourado, produção de artesanato com a palha de ouricuri do Pontal de Coruripe (AL) e fabricação de redes em São Bento (PB).
Segundo Estevam Machado, um especialista na história colonial do Brasil, a palavra forró é derivada de forrobodó. Esta, por sua vez, vem de “forbodó”, que é uma adaptação para o português de uma palavra francesa: faux-bourdon. Faux-bourdon era um tipo de música tocada na Idade Média.
No Brasil, o ritmo que originou o forró foi introduzido no século XIX pelos portugueses e se estabeleceu principalmente nas regiões interioranas do país, sobretudo no interior do Nordeste. Luiz Gonzaga, popularmente conhecido como Gonzagão, o rei do baião, foi um dos pioneiros na popularização do forró nos anos 1940, juntamente com Carmélia Alves. Inicialmente, era uma expressão artística do mundo rural sertanejo.
A música geralmente era executada com apenas três instrumentos e suas letras abordavam temas nostálgicos e regionais, com um marcante sotaque do interior. De acordo com Machado, "só na década de 50 que o nome forró passa a ser utilizado para o ritmo musical e a gente deve muito isso à figura do Luiz Gonzaga, com a música 'Forró de Mané Vito', que realmente criou esse gênero que é tão importante para a cultura nordestina".
As transformações significativas tiveram início em 1975, quando artistas populares moldaram o gênero musical para se adequar ao período e ao seu estilo de tocar. Marcava o começo do forró universitário, com um apelo direcionado ao público jovem e citadino. Este novo estilo foi difundido por Elba Ramalho, Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
A década de 1990 marcou a maior transformação do gênero. Com a introdução de novos instrumentos, dançarinas, linguagens musicais e elementos de outros ritmos, surgiu uma nova vertente: o forró eletrônico, também conhecido como forró estilizado ou “oxente music”.